Interlúdio I
O
porão da casa velha, conhece? É o lugar pior do mundo. Cheira a mofo de
terra, de terra onde nunca se enterrou ninguém, terra mais só. Lá
guardei uma caixinha trancada, de ferro para o fogo nunca destruir, e
vou morar dentro da caixinha. Vou entrar e dormir, dormir até o mundo
nascer de novo. Dessa vez não vou ser eu quem vai parir, porque da outra
vez não tive forças e morremos, eu e o mundo nem nascido. Dessa vez vou
nascer também, sem esforço, sem dor, sem escolha. Que não me falte
também o ar.
De vez em quando dou uma olhada pela fechadura da caixinha, embora dormindo, porque tenho medo de o mundo nascer sem mim. Mas não há perigo. Também por isso a caixinha é de ferro: quando ela se misturar à terra do mundo, eu vou nascer, viva, viva, e também serei terra. Com pavor a vasos de flor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário